Plasticidade dos circuitos cerebrais
Os sinais moleculares que orientam a maturação dos neurônios, a migração deles para formar circuitos e a arquitetura das sinapses, começam a exercer suas funções ainda na vida intra-uterina, bem antes do embrião exibir sinais de atividade neural. Nessa fase, a organização obedece exclusivamente ao comando todo poderoso do programa genético herdado dos pais. A configuração básica das redes neuronais de cada indivíduo adquiridas antes dos estímulos do meio vão constituir o arcabouço computacional do cérebro por onde trafegarão as informações futuras. A atividade neural poderá ser iniciada espontaneamente pelo embrião em fases ainda precoces do desenvolvimento. No entanto, para a circuitaria desenvolver sua potencialidade serão imprescindíveis os estímulos ambientais.A experiência exerce impacto decisivo na organização das redes neuronais; sem ela, o sistema nervoso não atinge a maturidade plena. Por exemplo, se taparmos o olho esquerdo de um gato recém-nascido durante trinta dias consecutivos, a visão desse olho estará definitivamente comprometida. Do ponto de vista anatômico, os neurônios que se dispõem na retina esquerda estão lá, os circuitos que os conectam aos centros cerebrais envolvidos na visão, também, mas a falta do estímulo luminoso no momento adequado comprometerá irreversivelmente a função da rede encarregada de processá-lo . Essa experiência clássica ilustra a característica mais importante das redes neuronais: a plasticidade. Viemos ao mundo com uma circuitaria montada na ordem imposta por nosso programa genético, mas o impacto da experiência modifica a estrutura molecular das redes, promove novas conexões e desliga outras com a finalidade de aumentar a capacidade operacional do sistema diante dos desafios que a vida impõe.
Referência:
ROTTA, Newra Tellechea [et al.] Transtornos da Aprendizagem: Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
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